domingo, 3 de maio de 2009

Tirar as crianças da sala não é preciso. Powaqqatsi mostra que a infância não existe. Pelo menos não para as que aparecem representadas como numa pintura da idade média. Ou seja, um adulto numa escala reduzida. O que as diferencia? Os olhares surdos que questionam incessantemente.

Guiado pelas neblinas, o filme mostra o coletivo. O conjunto de lotes, a vista aérea, a pessoas vistas de longe. Tudo parece em harmonia, mas é só ampliar a visão e enxergar um pouco mais- digo um pouco mais por não ser “melhor” uma palavra adequada.

A roda sempre presente nas criações humanas, questiona a força centrípeta que parece ter fugido e agora corre solta em uma única direção. Nada mais claro que comparar a ganância com algo sem controle. Sem controle, alias, é o fato de não enxergarmos além das imagens. Sabemos que existe algo por trás da lama que cobre rostos e marca passos. Mas de quem seriam os rostos e passos? A lama caracteriza o mal, mas ilude o espectador.

Ao longo da duvidosa seqüência aleatória de imagens, o filme escreve a história do poder e sua ligação direta com a arquitetura. Seja nos monumentais edifícios religiosos, ou nos austeros arranha-céus que apenas refletem com seus vidros, mostrando que nada questionam, que nada falam e que fazem jus ao seu zeitgeist.

De uma forma geral, as arestas aparecem em todos os sentidos; seja nas construções ou, até mesmo, no mecanicismo dos passos controlados por sinais de transito das grandes cidades.

A neblina, cada vez mais escura, que determina o trabalho, a dúvida, a poluição e o caos, mostra o quanto a função dos espaços e o senso de localização estão fora de foco. A criança, que antes questionava, agora para, olha, indaga, mas, logo depois, segue sua caminhada. Não é preciso dizer que o mesmo é feito por todos.

O artifício do foco é, mais uma vez, utilizado. O que não se vê talvez não seja o que não se quer mostrar. As imagens, agora, não são mais necessárias para saber a dimensão do assunto. Muito menos as crianças.

(Reflexões superficiais sobre o filme "Powaqqatsi" do diretor Godfrey Reggio)

Eu preciso parar para escrever. De verdade. Mas fazer de ultima hora é tão doce. E, bem, estou longe de querer controlar minha glicose.