quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Voz Rouca

Escutando aquelas músicas tristes. Ou será que a tristeza é que me escuta, que me entende? O telefone toca, mas a voz rouca rouba qualquer entusiasmo. Era apenas um recado. Errado. Como sempre. Nem ligo. Afinal, não disquei o número. Não gastei o meu tempo perguntando se alguém estava em casa. Eu estou.

O piano parece alegre. Mas a voz que acompanha as notas suaves diz o contrário. Como quando apresento algum trabalho. Como quando defendo o que não quero para mim. A gente acaba vendendo o que não presta e depois reclama. Depois reclama querendo colocar a culpa no outro. Afinal, o outro sabe o que faz; a gente não. A gente fez pelo simples fato de precisar, de ser a primeira vez, de ter surgido a oportunidade única de nossas vidas. Os outros sabem.

Corri. Mas não sai do lugar. Apenas meus olhos. Apenas meus olhos que não atenderam ao telefone e, por isso, não estão cansados, vagam procurando o próximo convite. Aperto meus cintos. Não quero bater. A música nem acabou, mas mesmo assim abro o livro. Concentro-me parte na leitura, parte na escuta. Como quando atendi ao telefone mas prestava atenção no apartamento da frente. É. Parece que meus olhos são extremamente dispostos.

A música não acabou. Muito menos o livro. Fecho os dois. Sim, fecho a música. Agora ela corre inevitavelmente para o andar de baixo. Eu tapei os ouvidos mas consigo imaginar as linhas que li anteriormente. Consigo perceber no que não prestei atenção. As lacunas são sentidas. Não consigo fazer determinadas conexões. Pontes que ligam personagens. Pontos que terminam uma frase e dizem que a história acabou. É. Parece que nem tão cedo vai acabar